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Offline PauloSantos

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Primeiros resultados científicos com o APEX.
« em: Julho 27, 2006, 12:21:36 pm »
A revista científica europeia Astronomy & Astrophysics (A&A) dedicou um volume especial aos 26 artigos que constituem os primeiros resultados científicos obtidos com o telescópio APEX (Atacama Pathfinder EXperiment). O telescópio APEX, de 12 metros, está situado a 5100 metros de altitude, em Chajnantor no Deserto do Atacama (norte do Chile) e é uma colaboração entre o Instituto Max Planck para a Radioastronomia (Alemanha), o ESO e o Observatório de Onsala (Suécia). O APEX dedicar-se-á a observar o céu do hemisfério Sul em comprimentos de onda submilimétricos, entre 0,2 e 1,5 mm, através das “janelas atmosféricas” – comprimentos de onda para os quais a atmosfera da Terra é parcialmente transparente. O APEX é precursor do ALMA (Interferómetro no dominio do rádio, mais precisamente, do milímetro e submilímetro), um projecto gigantesco que envolve a Europa, os Estados Unidos e o Japão. O APEX e ALMA observarão o “Universo frio”, que radia nestes comprimentos de onda.


O radiotelescópio APEX, no deserto de Atacama, tem 12 metros de diâmetro e trabalha no submilímetro. O APEX é um protótipo modificado das antenas que constituirão o ALMA. Crédito: ESO.

Este “Universo frio” inclui as nebulosas frias onde actualmente se formam  estrelas jovens e nas quais a temperatura é de apenas -260º C (13 K). Pensa-se que o nosso sistema solar se formou a partir de uma destas nebulosas frias, de forma que os astrónomos que estudam estas nebulosas tentam compreender como poderá ter sido o nosso Sistema Solar imediatamente antes e logo a seguir ao nascimento do Sol. Outras aplicações para o APEX serão o estudo de estrelas a perder massa nas últimas fases da sua evolução e regiões de formação estelar noutras galáxias.

A maioria dos primeiros resultados científicos foram na área de formação de estrelas. Em destaque está a descoberta, usando o APEX e o telescópio IRAM de 30 metros (Espanha), de uma nova molécula interestelar, CF+, uma molécula com carga eléctrica composta de carbono e flúor. Antes desta descoberta apenas se conhecia a existência de uma espécie de molécula com flúor no espaço, o HF (fluoreto de hidrogénio). A nova molécula foi descoberta na região de gás neutro adjacente à Nebulosa de Orionte e vem ajudar os astrónomos a compreenderem um pouco melhor a química interstelar, sugerindo que o fluoreto de hidrogénio é comum nas nebulosas interstelares.

Outra estreia foi a detecção – novamente na região de Orionte – de radiação de monóxido de carbono (CO) no comprimento de onda de 0,2 mm, graças ao trabalho de M. Wiedner (Universidade de Colónia, Alemanha) e dos seus colegas. Estes comprimentos de onda, no limite do regime operacional do telescópio, são difíceis de estudar, quer pela atenuação do sinal causada pelo vapor de água na atmosfera, quer por a tecnologia dos instrumentos nestes comprimentos de onda ser menos avançada. A detecção de CO nestes comprimentos de onda prova a eficiência do APEX.

Também foi detectada a radiação de H2D+, uma molécula com carga eléctrica composta de hidrogénio e deutério
deutério (D)
O deutério, também chamado de hidrogénio pesado, é o isótopo do hidrogénio com número de massa igual a dois (2H), cujo núcleo é constituído por um protão e um neutrão.
, em várias nebulosas do hemisfério Sul. O ião H2D+ é interessante porque é um indicador do gás que está tão frio (poucos graus acima do zero absoluto) que apenas as moléculas mais leves, inclusive a H2D+, ainda não congelaram na superfície de grãos de poeira.

Outras descobertas importantes incluem as primeiras observações de carbono atómico nos Pilares da Criação (na Nebulosa da Águia, M 16), estudos no submilmétrico de regiões de formação de estrelas de massa elevada, determinação da massa e energia de jactos de alta velocidade em objectos jovens. Relativamente à exploração extragaláctica, o APEX revelou-se capaz de estudar regiões moleculares da galáxia anã NGC 6822 e na galáxia com surtos de formação de estrelas, NGC 253.

Além dos estudos astronómicos, uma série de contribuições deste volume do A&A lidam com os aspectos técnicos do APEX, tais como o telescópio propriamente dito, o software, os receptores e os expectrómetros.

O APEX é um protótipo modificado das antenas que constituirão o ALMA (Atacama Large Milimeter Array), uma grande rede de telescópios submilimétricos. O ALMA será construído em Chajnantor por um consórcio que inclui os Estados Unidos, a Europa e o Japão, e consistirá em 50 telescópios de 12 m de diâmetro, numa rede que se estenderá ao longo de 14 km. Espera-se que o ALMA comece a ser operado gradualmente no fim desta década.

Além da sua relevância no decurso do projecto ALMA, o APEX tem interesse por direito próprio, como foi demonstrado pela riqueza de resultados publicados neste número especial da A&A (volume 454 nº 2 – Agosto I, 2006). Os artigos científicos estão disponíveis gratuitamente em: http://www.edpsciences.org/articles/aa/abs/2006/29/contents/contents.html

Fonte: Portal do Astrónomo
« Última modificação: Janeiro 01, 1970, 01:00:00 am por PauloSantos »
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Primeiros resultados científicos com o APEX.
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