Montar e AlinharNo ano passado tinha usado a montagem equatorial devidamente em cima do tripé correspondente, só que o facto do tripé ser alto, e ter as pernas a ocupar muito espaço, limitava-me muito o campo de visão. Desta feita, resolvi aparafusar a montagem a uma tábua de madeira de 35x35 cm com quase 3 cm de espessura que coloquei em cima da cadeira mais alta, larga, e robusta que tinha cá em casa. (É sempre aconselhável prender a tábua de madeira à cadeira, e fazer isto só para telescópio “pequenos”, tendo sempre o cuidado em manter tudo bem equilibrado para que não tombe da cadeira. E mesmo assim, é preciso alguma dose criticável de insanidade mental para tentar façanhas destas!)...
Bom, mas com esta nova abordagem, consigo ter um ângulo de visão de aproximadamente 60 graus na horizontal, centrados em Oeste, e de até cerca de 47 graus acima do horizonte. Não é muito mau!.. Mas como as janelas que tenho são em alumínio, das de correr, faz com que no meio da janela eu tenha uma zona onde não vejo nada! Tirar as janelas para fora da calha é complicado e pesado, portanto ou uso a metade norte do campo de visão com ambas as janelas chegadas para a esquerda, ou uso a metade Sul com ambas as janelas para a direita. Dado que estou a 38 graus de Latitude, o percurso aparente, em diagonal, dos objectos celestes no céu gera alguns desafios interessantes no planeamento do que se vai fazer..
Aqui fica o que se vê da minha janela:
E para culminar este primeiro dia de montagem do observatório, havia um cometa com percurso agendado para o fim da tarde! Fotografar um cometa não é tremendamente complicado, e não exige uma montagem bem alinhada com o eixo da terra, ainda assim, eu quis passar pelo problema de como alinhar minimamente uma montagem equatorial, sem acesso a estrela polar, e pior que isso, durante o dia!?! (São destes problemas “impossíveis” que mais gozo dão a resolver
)
Depois de o ter feito, até é fácil e simples de compreender! A ideia simplesmente consiste em apontar o telescópio às cegas para as coordenadas do objecto celeste, e no fim, ajustar a montagem de forma a que o telescópio fique a apontar para o dito objecto! Isto dará uma boa estimativa para um primeiro alinhamento da montagem sem grande precisão. É o que basta para encontrar e seguir cometas sem grande esforço, como era o objectivo.
Ora para isto, precisamos de:
:arrow: conseguir ver um objecto no céu,
:arrow: saber as coordenadas dele,
:arrow: conhecer um ponto fixo unívoco no nosso referencial, e
:arrow: saber as coordenadas desse ponto.
Traduzindo por miúdos, temos o Sol que se “vê” bem, e temos um ponto de referência fixo unívoco (numa dada altura) que é o zénite.
Basta conhecer a hora local sideral e latitude (ou seja as coordenadas do zénite – o nosso ponto unívoco fixo de referência) e as coordenadas do Sol.
Para fazer o alinhamento inicial, apontei a montagem mais ou menos para Norte, e coloquei o telescópio na vertical a olho (comparando a verticalidade do telescópio com arestas verticais de cantos de parede, moveis, janelas, e outras coisas dentro de casa). Usei, em seguida, software de planetário gratuito (Cartes Du Ciel) para saber as coordenadas do zénite, e introduzi-as nos círculos graduados da montagem. Em seguida, e apontei o telescópio para as coordenadas do Sol, que o programa de computador também de deu, e liguei a montagem para fazer seguimento dessa posição. Por fim, com o telescópio e buscadores tapados, e com o auxílio das sombras, fui ajustando a montagem de modo a que o telescópio ficasse o mais centrado possível na própria sombra (apontar para o Sol). Inicialmente ainda era cedo, e a luz do sol não entrava na janela de forma a gerar sombra no telescópio, portanto tive que me ir guiando pelo paralelismo do telescópio com as sombras disponíveis.
Este tem que ser um processo iterativo, pois cada alteração que se faz à orientação da montagem está a alterar também as coordenadas do Zénite, do ponto de vista da montagem.
Ainda assim, pode-se argumentar que o círculo graduado da declinação mantem-se sempre no mesmo sítio e está sempre “correcto” naquela posição. Isto aliado ao facto de o Sol não se mexer (quase nada durante uma tarde) em Declinação, e que deve estar perto do horizonte, permite ajustar a montagem de uma forma simples: As coordenadas do Zénite determinam o ajusta da altitude da montagem, e o Sol determina o ajuste em Azimute.
Quando o Sol conseguiu ver o meu telescópio todo, fiz então os ajustes finais, e a montagem ficou decentemente alinhada. Foi só esperar pelo pôr do Sol para destapar o telescópio e começar a procurar o cometa.