Mais do mm:
Um enxame de cometas em colisão está entrelaçando um poeirento "manto de morte" para um distante corpo estelar e a providenciar aos astrónomos raras provas que certos sistemas solares podem sobreviver ao fim dos seus respectivos sóis.
Usando o telescópio espacial da NASA, Spitzer, os astrónomos avistaram uma nuvem de gás e poeira em torno de uma estrela morta, chamada anã branca, na Nebulosa da Hélice, localizada a 700 anos-luz na direcção da constelação de Aquário.
"Ficámos surpreendidos por ver tanta poeira em torno desta estrela," disse o membro da equipa de estudo, Kate Su, da Universidade do Arizona. "A poeira deverá estar a vir de cometas que sobreviveram a morte do seu sol."
Uma anã branca brilha em vermelho no centro de uma nuvem de gás e poeira na Nebulosa da Hélice, a 700 anos-luz na direcção da constelação de Aquário.
Crédito: NASA, JPL, Caltech.A anã branca foi formada quando uma estrela, muito parecida com o nosso Sol, morreu e libertou as suas camadas exteriores. A radiação do ainda quente núcleo da anã branca aqueceu o material expelido, fazendo-o brilhar com vívidas cores.
O resultado é uma colorida e enorme estrutura que se parece com um olho gigante, espreitando maliciosamente através dos céus.
Os astrónomos há muito que estudam a anã branca no centro da Nebulosa da Hélice, mas nunca se tinha detectado poeira até agora. Usando os olhos infravermelhos do Spitzer, Su e sua equipa avistaram um disco de poeira em torno da estrela morta a uma distância entre 35 e 150 UA (uma unidade astronómica, UA, é a distância entre o Sol e a Terra).
A existência do disco de poeira foi uma surpresa. Os astrónomos pensavam que a estrela tinha expelido toda esta poeira do seu sistema quando morreu e libertou as suas camadas exteriores.
Os astrónomos por isso pensam que o disco foi formado a partir de poeiras libertadas durante colisões de cometas. Observações detalhadas recentes de cometas a partir de missões como a Deep Impact confirmaram que são gigantes bolas de gelo, poeira e partículas rochosas ligadas pela gravidade.
Esta ilustração demonstra um cometa sendo despedaçado em torno de uma estrela morta, ou anã branca, chamada G29-38. A observação do Spitzer foi a primeira prova observacional que os cometa podem sobreviver ao fim dos seus sóis.
Crédito: NASA, JPL, CaltechA anã branca da Nebulosa da Hélice foi provavelmente há muito tempo uma estrela como o nosso Sol, rodeada por um exército cósmico de cometas, asteróides e possivelmente planetas, pensam os astrónomos.
Quando a estrela morreu, passou primeiro por uma fase de gigante vermelha, inchando até um tamanho colossal e engolindo os seus planetas interiores (a Terra irá um dia ter o mesmo destino). Os mundos exteriores, asteróides e cometas poderiam ter sobrevivido, mas as suas órbitas, anteriormente "estáveis", teriam sido terrivelmente destabilizadas, pondo-os até em rotas de colisão uns com os outros.
Como parte do final da sua vida, a inchada estrela expeliu as suas camadas exteriores, até que apenas um núcleo, pequeno, denso e relativamente frio - a anã branca - permaneceu. Entretanto, as confusas colisões de cometas continuaram a ocorrer nos frios limites do sistema solar.
Estas descobertas são provas raras que objectos, tal como planetas, cometas e asteróides, podem sobreviver à morte das suas estrelas. Em Janeiro do ano passado, astrónomos usando o Spitzer também descobriram um disco de detritos em torno de uma distante anã branca, chamada G29-38. No entanto, esse disco era muito mais pequeno e localizado mais perto da sua estrela.
Estas descobertas também podem ajudar a explicar o mistério que rodeia a anã branca da Nebulosa da Hélice. Observações prévias mostraram que a estrela morta estava emitindo raios-X altamente energéticos - algo que uma estrela fria e morta não deveria fazer.
Mas se os cometas e outros objectos estão colidindo uns com os outros em torno da anã branca, tal como as observações sugerem, então alguns destes detritos poderão caír na anã branca e despoletar libertações de raios-X.
"Os raios-X de alta energia eram um mistério por resolver," disse o membro da equipa de estudo, You-Hua Chu, da Universidade de Illinois em Urbana-Champaign. "Agora, podemos ter descoberto uma resposta no infravermelho."
Fonte: Centro de Ciência Viva do Algarve